Oscar Bessi Filho
Há leitores da coluna preocupados. Têm medo do que pode acontecer se a onda de protestos por melhores salários aos PMs gaúchos continuar. Digo, fiquem calmos. Há muitos anos e governos que se fala em ter segurança pública, mas não se quer ter despesa com os profissionais que a promovem. Há muito se promete valorização, mas, na hora, se descobre que não se tem dinheiro para isso. Claro, para outros poderes sempre tem. Mas, para professor e policial, nunca. Mesmo com essa situação toda, mesmo com legislações que só tornam o cidadão cada vez mais refém e a autoridade cada vez mais frágil, ainda assim podem descansar.
Há quem lute pela sociedade. E são muitos. A imensa maioria. Pode haver quem queime pneus, quem grave vídeo ameaçador. Como pode haver quem faz pior: cobre pelo policiamento, se venda para quadrilhas ou cometa crimes com a farda. Sim. São humanos. E são diversos.
Mas, enquanto o caro leitor lê essas notícias, lá fora, anonimamente, milhares de policiais não param de correr atrás do lixo social que cai em suas mãos. Do descaso que joga multidões na vala fétida da miséria e da exclusão. Da tribo de drogados, bêbados e bandidos. Do descalabro, fruto de corrupções, desvios e imoralidades de toda ordem que lhe cai na frente para dar um jeito. Porque qualquer um, ao se apertar, chama a Brigada. Indivíduo ou órgão público. É 190. E quer atendimento. E nem pergunta se o policial está bem, está precisando de algo, se está disposto. Ele está ali para isso e pronto. E ele atende. Podem conferir. As cadeias não pararam de receber bandidos em nenhum momento. Todos os dias.
Agora, não peçam para que eles estejam felizes porque vão receber pouco mais de mil reais. Calculem. Um aluguel, simples, é em torno de R$ 600. Um rancho em torno de R$ 400. Bem simples. Água, luz, telefone. Gasolina, se tiver carro. E roupas. E o colégio dos filhos. Quanto se precisa mesmo para sustentar uma família e ter uma vida decente? Quanto se precisa, mais do que isso, para ter perspectiva? Sonho?
Mas fiquem calmos. Os policiais vivem sob tensão, todos os dias, nas suas horas de serviço. É sua profissão. Ir onde tiver conflito e resolver. Ir onde tiver armas em ação e ser o primeiro alvo quando assaltantes decidirem atacar um banco. Juntar pedaços de crianças acidentadas. Socorrer mulheres vítimas de violência. Em casa, contas o esperam. Pratos vazios. E crianças suas vendo crianças de bandido, ou de esperto, tendo o que elas não têm. É. Mas fique calmo. Natural que eles não estejam felizes. Mas a grande maioria, caro leitor, pode apostar, ainda está disposta a morrer por ti sem chiar. E nem te conhece.
Correio do Povo
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