Publicado por Redação em 24/02/2011 as 10:29
Arquivado em Opinião .Zélia Tenório de Araújo
Um dia desses, circulando pelo comércio da cidade, avistei, na calçada paralela, um senhor de aparência simples, cabelos completamente grisalhos, coluna recurvada, de um jeito incapaz de mirar o céu de forma comum, sem sacrifícios, caminhando com dificuldade com o auxílio de uma bengala.
Rapidamente, pensei: este já foi criança, adolescente e jovem. Alguém deve ter lhe oferecido afagos, atenção de toda espécie. Já fez rolar uma bola aos seus pés, soltado pipas que desafiaram o espaço, tomou parte de tantas brincadeiras e sonhado com tantas outras.
Percebendo a dificuldade com que se locomovia, atravessei o calçadão e dele me aproximei, sem demora. Naquele momento a minha pressa por realizar determinados compromissos se desfez, pois ele me pareceu mais importante.
- Quer ajuda? Observei que o senhor está muito cansado. Na verdade, o calor é intenso e há muita agitação por aqui.
Como a afirmativa veio em seguida, convidei-o a sentar-se comigo num daqueles bancos que enfeitam os arredores, bem ao lado de um arbusto que nos ofertava um pouco de sombra, justificando que também necessitava naquele instante de uma parada.
Coloquei-o bem à vontade para os seus possíveis desabafos, enquanto os meus, se existissem e fossem cabíveis, poderiam se acomodar um pouco mais.
Era funcionário público, aposentado há muitos janeiros. Havia ido receber os seus vencimentos num banco bem próximo dali. Residia sozinho, morava de aluguel, mas o seu salário era insuficiente para adquirir alimentação e medicamentos.
Nutria o sonho de possuir um cantinho inteiramente seu, onde pudesse descansar livremente, sem a preocupação de repartir os seus vencimentos, lançados todos os meses de porta afora quando não haveria retorno. Quem sabe, um apartamento desses do Par, térreo, quando estava impossibilitado de subir e descer escadas.
Mas, o seu desejo somente poderia ser realizado quando um dia recebesse os precatórios.
Nem imaginava ele, haver naquele instante ameaçado um formigueiro e, me presenteado com motivos suficientes e lógicos para redigir mais uma crônica do jeito que me satisfaz, pregando a justiça e a verdade.
Omitindo as minhas reais intenções, empolguei-me mais ainda, respirei com fartura, escancarei os ouvidos, promovi um silêncio necessário e, alinhei as suas queixas há tantas que de mim se avizinham desde que este assunto se tornou prioridade entre todos que dele fazem parte.
Precatórios são dívidas da Nação, Estado ou Município, contraídas por vários motivos para com o funcionalismo público, que deverão ser consolidadas num espaço breve, quando a justiça julgou e autorizou esse compromisso.
Tal atendimento deverá seguir as cláusulas da lei, quando há inteira necessidade da concretização do bom exemplo, que deverá ser executado de conformidade com as determinações da Justiça, transformando esses poderes num espelho onde todos nós possamos nos mirar.
Segundo os itens editados nos seus códigos, deverão ser consideradas algumas exigências como: prioridade aos idosos, doentes e mais necessitados. À ordem crescente deverá ser estabelecida, ou seja, considerando que os últimos serão os primeiros, jamais de forma contrária. Muitos já partiram para a eternidade transportando esse sonho que não se realizou, mas os que ficaram poderão vivenciá-lo, um dia. Nem foram os primeiros nem serão os últimos nesta terra de incertezas.
O que temos visto por aqui, não se enquadra nesses pré-requisitos, quando pessoas abastadas já foram contempladas com o recebimento da tão almejada dívida, ampliando a sua fortuna, permutando uma mansão por outra, realizando cruzeiros em volta do mundo e outros programas bem diversos daquele ambicionado pelo meu amigo recente.
Imaginei-me no seu lugar, sofrendo a esmo, acalentando devaneios quase impossíveis, lutando por uma causa a que temos direito, sem poder falar ou sequer fazer-se ouvir, porque as portas não se abrem, facilmente, para aqueles que estão nos últimos degraus.
Uma onda de revolta me atingiu, por fazer parte também daqueles que anseiam pelos longínquos precatórios, quando em forma de contraste, os nossos impostos deverão ser saldados no tempo exato, sem oportunidade para adiamento, com juros e correções anexados, impiedosamente, sem perdão ou desculpas.
O chamado SPC espera de braços abertos por todos nós, até lançar-nos no mundo dos velhacos e marginalizados.
Nós nos limitamos a sorver as injustiças, sem apontarmos o nosso dedo mínimo para quem quer que seja, pois os órgãos majoritários, mesmo oferecendo péssimos exemplos, prosseguem de cabeça erguida, colocando a consciência abaixo dos calcanhares, indiferente às necessidades do próximo, que na verdade é seu irmão.
Mas, uma réstia de esperança ainda predomina naqueles que acreditam que nada é impossível enquanto vivemos e acreditamos. Ainda confio nos valores dos compromissos assumidos diante do público, em palanques ou em atas que ainda resistem à crueldade do tempo. Infelizmente, não possuímos o direito de colocar os órgãos públicos na relação dos devedores, punindo-os com a suspensão dos seus créditos, suspendendo os seus direitos perante o comércio e a sociedade, colocando-o, enfim, no rol das criaturas infiéis e marginalizadas. Mais uma vez o poder se agiganta e ofusca todos aqueles que permanecem abaixo dele.
Sobre a autora
Zélia Tenório de Araújo
Pedagoga
Tem muitos funcionario publicos vivendo deesperança ,e tem muitos politicos seelegendo com promesas nestes precatorios
ResponderExcluirtenho precatorio para receber e ja faz muitos anos que estou esperando, aproximadamente 10 anos, ja´estou cansando de esperar essa mise´ria, sou funcionario do estado rs, e ja perdi a esperança de receber, entra e sai governo e nunca nada, que exemplo os governos deixam as pessoas que tem o direito a receber seus precatorios, e acabam morendo na maiorias das vezes sem receber. acho que sera´tambem o meu caso, parabens a todos governantes deste pai´z, pque se eu devesse ao governo, em uma semana ja´estaria vivendo nas ruas. e nao temos a quem reclamar, o governo faz o que bem entende e nao paga suas dividas,pois quem deve, deve pagar em curto prazo, ou ate´mesmo parcelado,e nada de levar um seculo para pagar, isso e´simplismente vergonhoso. que o governo, soque …, tambem esse dinheiro, que foi ganho com tanto suor, por cada trabalhador seu. porque para mim, ja e´suficiente, parem de enganar o povo, gambada de enroloes
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