segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

OS MILITARES NA ESQUERDA

VANDERLEI PINHEIRO
Ten Cel RR da Brigada Militar e Diretor do Jornal Correio Brigadiano

Existem cientistas sociais e cientistas políticos que forçam o entendimento de que com a queda do muro de Berlim, com a reunificação da Alemanha, com o acontecimento da perestroika e da glasnost, na antiga e poderosa União Soviética, se havia encerrado o ciclo do conceito de esquerda e direita. Não vou invocar a velha história do surgimento do conceito, na Inglaterra, pelo posicionamento no parlamento de nobres e trabalhadores. O conceito está mais vivo que nunca, tanto na Inglaterra como no mundo. E muito mais forte se corporifica no terceiro mundo, nos emergentes, no hemisfério sul ou em outros rótulos que recebem as nações com deficiências tecnológicas. O conceito, também, continua vivo no ceio do capitalismo como nunca esteve. E aí, a velha máxima comunista, de que basta 1% de ativistas atuantes, para a ideia de existência forte com grande visibilidade da ideologia, continua valendo.

Na América Latina o comunismo é poder nos países. Na Venezuela, Chaves demonstra sua gana em direcionar-se ao totalitarismo, afora alguns ensaios, principalmente de cerceamento da imprensa, em outros países. Aqui no Brasil, a democracia mais consolidada, não deu espaço sobre a censura à imprensa e ainda está inconclusa. Mas a Lei da “Comissão da verdade” funciona como um “osso” para a imprensa roer, enquanto é estudada uma forma válida de sua neutralização. Em todo o cone Sul estão buscando o poder total, ideário permanente a ser perseguido pelos camaradas. Ainda mais, agora que a Rússia começa a se refazer de sua derrocada, buscando uma reconexão com a China, a qual se mantém com independência, na busca de substituir os Estados Unidos na liderança planetária. Ocorre um novo fato, por conta das manifestações orquestradas, nos principais points das mais importantes capitais do planeta. Manifestações populares com as indisfarçáveis bandeiras vermelhas e com as conhecidas palavras de ordem bradadas contra o capitalismo. Se isso não é esquerda, então não existe mais o conceito como querem alguns fazer crer.

Minha meta é entender os militares brasileiros no contexto desse processo. Quero me ater aos militares de esquerda no Brasil. Não vou falar da comenda de Jânio ao Che Guevara; do fustigamento constante do Weneck Sodré; da performance do cabo Ancelmo e seus sargentos; ou da traição do Lamarca. Houve, ao inicio de 1964, uma anarquia tão grande e com a participação de militares que, per si, se tornou o gatilho das decisões de comandos militares, em dar um basta ao descalabro nacional. A sociedade já estava clamando por uma ação e de várias formas hipotecou sua plena solidariedade ao movimento de 64. Ocorreu, em fatos, uma contrarrevolução à revolução comunista que se instalaria.

Para entender melhor essa argumentação cite-se o brasilianista - americano John W. F. Dulles, autor do livro “Anarquista e comunista do Brasil” que mapeou e estudou a gênese dessas duas ideologias no Brasil. Uma leitura atenta, nesse livro, quanto a formação de células comunistas nos quartéis brasileiros, é bastante interessante. Acho que os comandos da marinha, exército, aeronáutica e polícias e bombeiros militares devam dar, novamente, uma olhada nessa bibliografia. Faço dois destaques dessa pesquisa do Mister Dulles: a primeira se refere a uma grande manifestação popular anarquista, em São Paulo, em 1919, quando os manifestantes, confrontados com a cavalaria da Força Pública (atual PM) gritavam brados de “Morra a Polícia” e “Viva o Exército”; a segunda pela significativa quantificação de células instaladas no Exército, um mínimo na Aeronáutica, nenhuma citação de célula na Marinha e uma, por contágio, com o pessoal da PM do Rio, que trabalhava no presídio da ilha.

Essa leitura eu procedi há mais de trinta anos e por ela desenvolvi a teoria da fragilidade dos integrantes de baixos escalões do Exército, em serem mais propensos, do que os policiais militares, a se envolverem com a ideologia vermelha. Justificava meu pensamento na própria teoria da guerra. Por ser a guerra, o esforço de preparação em todos os níveis, repetido anualmente, para algo que nunca ocorre, é uma forma de entendimento introjetado da “utopia”. E isto dá uma identidade comum. Fora isso, estão as soluções maravilhosas propostas pela ideologia sanguinária, inclusive com o dever de matar o burguês responsável pela desgraça da pátria. O burguês é um inimigo a ser morto. Hoje, não digo que haja, nesse início, a mesma visão. Mas é uma questão de tempo, para estruturem e desenvolverem ações de conquista de executores. A preocupação está agora na participação acentuada dos militares estaduais, como simpatizantes e ativistas da esquerda. Do uso das mulheres e filhos, com comportamento idêntico ao do MST. Há uma juventude militar desinformada que está sendo influenciada pelas ações da mídia no poder, como de sorte a toda a juventude nacional. Esse é um cenário que deve ser considerado, porém há outro mais grave, que é a forma de politização partidária dos militares estaduais.

O partidarismo sempre conviveu com a caserna. Se há um governo e esse governo é democrático, ele pertence a um partido ou coligação partidária. E a escolha dos cargos disponíveis vai ocorrer num critério de intimidade ou interação e a capacidade técnica de pessoas que são próximas das cúpulas dos partidos, inclusive dos cargos militares. Aí se formam as castas de poder e servidão e a desconformidade dos tropeiros, como se denomina os militares da atividade de linha. Isso é parte de um terreno fértil a teorização de partido de militares.
É um sonho que coexiste como solução mágica. É outra forma de utopia. E só chega-se ao estágio de busca e criação de um partido exclusivo (princípio fascista de poder dos partidos sindicais) quando todos os artifícios da democracia estão falhando. Um partido como sua própria designação diz, é um pedaço e, portanto, deveria ter uma definição bastante clara em ser de direita ou esquerda e, dentro dessa escolha buscar todos os segmentos. Se tu não és, ou não queres te identificar com um desses lados, ou estás a serviço ou esperando um bote. “ninguém pode servir a dois Senhores, sem que um deles saia desservido”. Estamos num momento brasileiro que mesmo fraudulentamente, os valores estão que estão sendo apresentados à sociedade são de esquerda. Não há espaço para um partido militar, mesmo de esquerda, a menos que revolucionário. Na direita, até teria espaço, mas seria massa de manobra, para a pirotecnia da oposição. Seria um partido que teria apoio, mas não votos. Vai ser difícil entender propostas conciliadoras. Os militares podem fazer carreira política e seu público deve ser a sociedade e não o classismo.

Os níveis hierárquicos dos militares ativos têm visões diversas na questão de uma participação engajada da democracia, através de partidos políticos. Os cabos e soldados, níveis de execução, têm um visão prática e imediatista. Buscam respostas para o aqui e agora; o que eu ganho, neste momento e que ganho depois de eleito. Já graduados e os tenentes estão mais propensos as proposta de médio e longo prazo, podendo ter um engajamento discreto, conforme o grau de liberalização de seus comandos; Capitães e Majores são tenentes cansados das propostas vãs da política. Alguns bifurcam na utopia de um partido exclusivo, excetos aqueles que já conquistaram alguma “boquinha”, a grande maioria vai cuidar da carreira sem uso desses meios. Coronéis e Generais aguardam na fila. Como se diria, ”a minha vez vai chegar”. E nessa fila acontecem os mais variados comportamentos. Do adesismo imediato à resistência para não abrir vaga e facilitar o poder constituído mobiliar imediatamente seu staff militar. E esse quadro não tende a sofrer mudança. Agora, sempre haverá crítica, ao militar que quando é transferido para a reserva, faz sua manifestação político/crítica.

O que garante o reconhecimento público do pensamento institucional de uma organização militar é seu processo histórico. Os verdadeiros comandantes que publicam sua forma de ver o mundo em tudo que prejudique a doutrina de sua instituição. Muitos se evocam que em seu comando vale o seu pensamento. Os comandos são transitórios. As instituições vão agregando comando a comando as vicissitudes e vícios de seus comandantes e o respectivo reflexo na tropa. As organizações têm a amálgama desse processo de formação de pensamento institucional, a partir do que recebeu na formação básica, do núcleo da ideologia institucional (Academia), que vai ser reforçada ou reformada, no dia a dia, da atividade cotidiana. Um comando sozinho deixa sua marca, mas dentro de um processo histórico, que pode no máximo significar um desvio temporário corrigido ou corrigível.

Nossa preocupação está em algo que deve ser estudado e está ocorrendo em relação a questão salarial, mais claramente nos militares estaduais, onde parece existir uma pré convulsão direcionada. Estão sendo quebrados princípios garantidores da condição de militar e acredito que, propositadamente. Não há de se negar a discrepância entre salários que são praticados em Brasília, no Piauí, no Rio Grande do Sul e outros Estados. O melhor referencial é o da Polícia Rodoviária Federal, que conta com uma atuação até privilegiada, em comparação às PMs, com um salário básico de quatro a seis vezes a média das PMs brasileiras. E a Polícia Federal para os quadros superiores. Essa mesma comparação pode ser estendida às Forças Singulares (Marinha, Exército e Aeronáutica).

Mas o que vejo de grave nesse assunto não é buscar melhores condições. Há discordância de algumas práticas. Grave é o teor de uma proposta de PEC, a qual garante a criação do fundo e a suplementação salarial aos Estados, para garantir o piso básico às organizações policiais que se unificarem. Só poderão ter acesso ao “Subsídio” como forma remuneratória (que é um direito constitucional dos policiais), aqueles Estados que sua Polícia militar e sua Polícia Civil se transformarem um uma Polícia Estadual (Única). Aquele discurso de polícia única sempre prometida está a caminho. Creio ter sido a mesma mente petista que estruturou ser possível comprar o apoio parlamentar, subsidiando parlamentares, que também estruturou essa estratégia. Após todas os militares estaduais transformados por vontade própria e com o interesse dos erários estaduais, em poucos anos todas as polícias estarão vinculadas à uma CUT da vida. E aí, parar o Brasil e implantar um novo modelo socialista entre os modelos da China e de Havana é uma facilidade. As Forças Armadas, quem sabe até, poderão estar contempladas nesse pacote.

copiado do blog ORDEM E LIBERDADE BRASIL - por Jorge Bengochea

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