domingo, 17 de abril de 2011

O POLÍTICO CORRUPTO E O LADRÃO

Jeremias Macário é jornalista Desta vez vou falar de duas questões que sempre estão rondando o nosso cotidiano circo dos horrores do “mundo civilizado”, pelo menos é o que dizem por aí. Uma é sobre a corrupção e a impunidade que tantas vezes já abordei aqui com reprovação e revolta. A outra é sobre até aonde vai o poder de tolerância contra a intolerância que ultrapassa o politicamente correto. Existe uma patrulha no país que, contraditoriamente, defende uma liberdade de expressão, mas sempre está de plantão para linchar o primeiro pensamento intolerante que aparece. Sei que sobre uma destas questões, pelo menos, serei linchado e apedrejado. Não estou nem aí como diz uma canção. Podem bater à vontade, desde que não seja literalmente em minha cara, mas com argumentos e idéias. Quando ainda era menino e aparecia um político, um oficial da polícia, um funcionário graduado do governo ou alguém de um segmento civil sendo denunciado como corrupto, as autoridades corriam logo para explicar que se tratava de uma minoria a contar nos dedos, e que era preciso extirpar o câncer para não se espalhar por todo o corpo. Hoje é o contrário. A dita minoria virou grande maioria e todo o corpo apodreceu. É uma fedentina só como em esgoto de ratos. A senhora toda encantada e bela impunidade abriu seus braços meigos para o beijar de língua na boca da corja que desfila entre nós acintosamente. O corrupto passa rindo e soltando gracejos como noivas donzelas e puras. Esta questão me suscitou fazer um paralelo, ou diferenças entre o político corrupto e o ladrão comum, ou o bandido das periferias. Os políticos ou magistrados corruptos assaltam os cofres públicos e continuam por aí de terno fino desfilando nos aeroportos e ambientes sociais, recebendo cumprimentos e tapinhas nas costas. O ladrão das periferias anda com roupas batidas e toucas para despistar da polícia. Vive se escondendo e fugindo das metralhadoras dos “homens da lei”. Só é cumprimentado por parceiros de delito e já tomou muitas porradas e ferro nas cadeias por onde passou. O político corrupto faz seu próprio aumento no Congresso, na Assembléia ou na Câmara, e é presenteado para delegar Comissão ou dirigir Ministério. Tem imunidade parlamentar e só pode ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Enfim, ele é promovido pelo roubo. O ladrão comum vive em constante perigo nos assaltos e a qualquer bobeira é executado friamente por um “tribunal” fardado de soldados (muitas vezes comparsas dele). Quando preso é quebrado na tortura e sem julgamento judicial. Sem essa de imunidade. O político corrupto trama o roubo do cidadão em gabinetes de ar condicionado sem correr nenhum perigo de tiros de fuzis. Sem aquela ordem: Isso é um assalto. Monta quadrilhas sofisticadas e esquemas intrincados em mansões e restaurantes de luxo, comendo lagostas e faisões. Depois recebe sua parte num escritório; enche a cueca e as meias de dinheiro; e sai passeando livremente sendo saudado como doutor e excelentíssimo. Recebem votos dos eleitores e no poder continuam roubando. O ladrão monta esquemas em barracos e depois do assalto ou roubo sai correndo em disparada, fugindo desesperado das balas e ainda corre o risco de ser linchado em praça pública. Essas diferenças e comparações entre o político corrupto e o ladrão comum, a depender da imaginação de cada, podem ocupar um longo espaço, mas hoje as pessoas não têm tempo para ler e estão mais preocupadas consigo mesmo. Não querem se envolver com essas coisas de corrupção de políticos e impunidade. Nisso, elas toleram a intolerância. TOLERAR A INTOLERÂNCIA Alguém diz que se sente feliz porque em sua família sua raça não se misturou. É toda limpa. Não foi um branco quem falou. Foi um negro numa entrevista num jornal da capital. Isso pode ser interpretado como puro racismo, mas com base na liberdade de expressão tão defendida por aí, ele tem o direito de falar o que pensa, mesmo que não concorde. Ninguém comentou. A contradição maior é que se tivesse partido de um branco, a patrulha entrava pesado e tome linchamento público. Uma alta funcionária do Governo Lula, não me lembro o nome, deu um depoimento na imprensa declarando que o negro tem o direito de discriminar e até ser preconceituoso pelo simples motivo de ter sofrido o peso da escravidão que aconteceu durante mais de 300 anos, sem depois ter sido reparado pelas políticas públicas. Ela também tem o direito de livre expressão e eu de discordar do seu pensamento simplista, sem nexo e raivoso, que não justifica um preconceito, mas sem essa de patrulhamento e linchamento. Ultimamente venho observando um acirramento na sociedade dos preconceitos étnicos, homofóbicos e no campo das idéias. Alguma coisa está errada e pode piorar. Outra coisa que assusta é o aumento da violência e da corrupção na polícia militar. Algo está errado no regime das corporações que precisa ser repensado e reformulado. A coisa está feia e aterrorizante. Vou adentrar, especificamente, no caso mais recente do deputado Jair Bolsonaro, longe de defender e concordar com suas idéias preconceituosas, mas ele também tem o direito de se expressar, e quem for ofendido recorrer à justiça por injúria e difamação. Quando não somos tolerantes com a intolerância, nosso conceito de liberdade e democracia vai para o ralo. Onde está a capacidade de tolerar a intolerância? E onde fica o nosso compromisso com a liberdade de expressão? Bolsonaro já é uma personagem visada e carimbada como do mal. É difícil defender seu direito de pensar, mesmo dizendo barbaridades. Ora, se não concordo com seus preconceitos, devo defender seu direito de ser contra o homosexualismo, a união gay e o casamento entre um negro e uma branca ou ao contrário. Como disse bem um colunista de um jornal, “se o direito de ser contra for negado a Bolsonaro hoje, o direito de ser a favor pode ser negado a mim amanhã de acordo com a ideologia dos que estiverem no poder”. Foi o que ocorreu na ditadura. A patrulha imbecil do politicamente correto é autoritária e ditatorial. Sem essa de “cassa, cala e prende Bolsonaro”. Se me coloco intolerante com ele, estou me igualando a ele. O mais incrível é que nossa gente tem a maior tolerância com os corruptos e ladrões políticos. Quase ninguém mais se lembra quando Lula numa emissora de televisão em Pelotas (Rio Grande do Sul), sem saber que estava sendo filmado, disse que a cidade era uma exportadora de veados. Muita gente o defendeu para não dar espaço para a direita. Foi ele também que falou que os responsáveis pela crise internacional de 2008 teriam sido os louros de olhos azuis. Imagina se os responsáveis tivessem sido os africanos! Será que ele diria que foram os negros de olhos preto? O preconceito só é caracterizado quando parte do branco para o negro? E se o gay chamar o heterossexual de sujo, porco, machista e safado só por ele expressar seu pensamento contrário a união homossexual? Não é preconceito? Então, o que conta mais é quem diz e quem pensa? Na nova novela “Morde e Assopra”, da rede Globo, a mulher do prefeito empurra na praça uma faxineira branca vendedora de cocadas e diz que despreza e tem nojo de quem é pobre. É uma discriminação velada e pesada. Diria nazista e fascista. Será que alguma entidade ou alguém vai protestar? Mas, se fosse uma negra iria, com certeza. Quer dizer que a tolerância e a intolerância têm cor e raça? copiado do blog.paulo nunes. http://www.blogdopaulonunes.com/v3/2011/04/06/o-politico-corrupto-e-o-ladrao/

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