segunda-feira, 7 de março de 2011

O PODER DOS MENSALEIROS

Sem constrangimento, Congresso escolhe réus do mensalão para postos-chave do Legislativo - Sérgio Pardellas - REVISTA ISTO É, N° Edição: 2156, 04.Mar.11. Atualizado em 05.Mar.11.






A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara é a mais importante da Casa, destinada a apreciar a constitucionalidade de todos os projetos que tramitam no Congresso. Mas, por mais paradoxal que seja, passou a ser presidida, na quarta-feira 2, pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), réu no processo do mensalão. O petista, indiciado no Supremo Tribunal Federal (STF) por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e apropriação indevida de dinheiro ou bens públicos, é acusado de sacar R$ 50 mil do Banco Rural, instituição em que foram realizadas as operações do esquema. Sob suspeição e com julgamento previsto para este ano, João Paulo foi indicado sem nenhum constrangimento pelo PT de São Paulo, mesmo reconhecendo que o escândalo ainda o “atormenta”. Recebeu 54 dos 56 votos. E passará a acumular poder de fazer inveja aos colegas. Se João Paulo não quiser, um projeto de lei nem mesmo chegará ao plenário para votação. Dependendo de sua conveniência, também pode acelerar ou postergar a tramitação de qualquer proposta.

A indicação de João Paulo para a presidência da CCJ não é um caso isolado do Legislativo. Além dele, os outros cinco mensaleiros eleitos no pleito de outubro integram comissões importantes da Câmara dos Deputados. Ficarão responsáveis por tratar de questões consideradas chave para o País, como o acordo de Itaipu, o financiamento público de campanhas, o trabalho escravo e o crédito agrícola. Acusado de receber R$ 120 mil da empresa S2 Participações, do publicitário Marcos Valério, o petista José Mentor (PT-SP) fará companhia a João Paulo na CCJ. “Esse processo mudou minha vida, mas tenho fé e convicção no direito e na Justiça”, defende-se João Paulo.

Os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG), também réus no Supremo, estão entre os 41 parlamentares escalados para a Comissão Especial da Reforma Política, que cuidará da reformulação do sistema político-eleitoral do País. “Instalaram uma comissão de suma importância para a qual os maiores partidos parecem não ter zelo algum na relação de seus indicados”, criticou Chico Alencar (PSOL-RJ). Outros que conseguiram espaço em importantes fóruns de debate e deliberação do Congresso foram os deputados Sandro Mabel (PR-GO), denunciado no processo do mensalão por tentativa de cooptação de parlamentares, e Josias Gomes (PT-BA), que teria recebido ­R$ 100 mil de Valério. Serão membros titulares da Comissão do Trabalho e Agricultura, respectivamente. Se a nova legislatura queria ser marcada pelos políticos que a representam, começou mal. Muito mal.

Um bico para Genoino

Sem mandato parlamentar nem cargo de ministro, o ex-deputado José Genoino (PT-SP) está esperando vagar a mesa de um diplomata no Ministério da Defesa para assumir o posto de assessor especial de Nelson Jobim. O que deve ocorrer logo após o Carnaval. Genoino vai ganhar um salário de R$ 8,9 mil para atuar como consultor legislativo do ministro. Um “bico” provisório para o ex-guerrilheiro que está desempregado desde janeiro. Enquanto isso, alguns petistas trabalham nos bastidores para alçá-lo a um posto de maior peso.

“O salário é razoável, mas o posto não condiz com a história do Genoino”, comentou o irmão e deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), numa roda de parlamentares. Entre os cargos cobiçados para acomodar o ex-deputado está uma das nove vice-presidências do Banco do Brasil. Nos últimos dias, aliados do ex-presidente do PT pleitearam junto ao ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, principal articulador político do governo, a indicação de Genoino para a vaga no Tribunal de Contas da União que se abrirá com a aposentadoria do ministro Ubiratan Aguiar.

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