domingo, 10 de outubro de 2010

Os Donos do Poder

Não sei se o leitor sabe, mas o policial militar também é humano, tem família, filhos, marido, mulher, amigos, etc., e nas poucas horas de folga que tem precisa está inserido no convívio social.


João da Matta Medeiros Neto

Recentemente vários gestores do poder público tiveram a brilhante idéia de resolver o problema da segurança pública comprando a folga do policial, em particular do policial militar, por sua peculiar função de policiamento preventivo, de patrulhamento das ruas, dos bairros, etc. Qualquer pessoa, por menos instrução intelectual que tenha, sabe que a folga é o período de descanso que o trabalhador tem, ou deveria ter, após uma jornada de trabalho. É um direito fundamental protegido pela nossa constituição e está previsto desde 10 de dezembro de 1948, quando a Declaração Universal dos Direitos do Homem foi proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, que estabelece: “Art. 24 – Toda pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e sobretudo a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas”.
Um direito fundamental é um direito inalienável1, ou seja, não pode ser vendido, dispensado ou cedido, é algo como a vida, a liberdade, que não podem ser negociados. Não sei se o leitor sabe, mas o policial militar também é humano, tem família, filhos, marido, mulher, amigos, etc., e nas poucas horas de folga que tem precisa está inserido no convívio social.
No caso dos policiais que têm uma das profissões mais estressantes, em particular no Brasil, a folga destes servidores públicos é antes de tudo um direito do cidadão que recebe o serviço da polícia. Nos países desenvolvidos o policial é obrigado a gozar sua folga para evitar que fique estressado e o cidadão sofra as conseqüências. O policial trabalha sob pressão, é chamado geralmente para resolver situações de conflitos e usa arma de fogo, portanto, necessita estar psicologicamente equilibrado para atender a sociedade satisfatoriamente. Nesses países comprar a folga de um policial seria aviltante, fora de cogitação, já aqui no Brasil, comprar a folga do policial é motivo de grande divulgação midiática, declarada pelas autoridades como política de segurança pública.
Parece que caminhamos pela contramão da história, respiramos o milênio da tecnologia e da informação, mas insistimos em conservar os conceitos da colonização, das capitanias com os seus capitães-mores2. As empresas mais modernas do mundo, algumas instaladas aqui mesmo no Brasil, estão pagando uma fortuna para que seus empregados produzam se divertindo, fazendo os seus próprios horários, e têm alcançado grande sucesso.
Mas a polícia é outra história, prestar um bom serviço, isso é o que menos importa, afinal seu maior público são os herdeiros da abolição. O resultado já se vê, os crimes continuam acontecendo, os assaltos a bancos e homicídios não diminuíram, parece que o tiro saiu pela culatra. Ora, só falta agora sugerirem remunerar o lazer dos criminosos. Quem sabe incentivando-os a tirar folga a população terá uma trégua.

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